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quinta-feira, 18 de julho de 2013

SERIA EU O LOUCO...



          1

Sonhei
com um louco
caminhando dentro da noite.
Uma noite diferente,
Havia luzes,
havia enfeites.
Havia alegria.
Alegria
coletiva
pura
cínica,
chocante,
mas havia
em todos os semblantes,
menos no do insensato,
que chorava,
gritando palavras desconexas
contra a multidão,
como se esta fosse a culpada
de haver amargura em seu coração.

               2

A multidão prosseguia
indiferente,
abafando as blasfêmias do demente,
com seus cânticos de paz,
fogos de artifícios
e com gritos felizes
das crianças
soltando balões de gás.
          
                3

De repente
tudo se transformou.
A multidão pôs-se a chorar
e o louco a sorrir.
Era a morte do sonho.
Era a esperança
a morrer com a noite.
Era a dura realidade
de um novo dia a surgir.

               4

Os cântico de paz
transformados em prantos
de sangue a correr pelo chão.
Os fogos  de artifícios
em bombas de guerra.
O riso alegre das crianças
em tristes lamentos de
inocentes pedindo pão.
As mensagens  de amor,
de paz
para os homens de boa vontade
                                           na terra,
em tristes notícias
de crimes,
revoluções,
inflação,
fome,
dor,
      luto,
            ódio,
                   guerra.

               5

O louco
sorriu, cínico,
mas sorriu.
Então,
acordei
com a sensação
de que o louco era eu.

Natal, 1970
  





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