1
Noite de insônia.
A lua,
toda nua,
passeando em céu de estrelas.
Tudo tão clamo,
tão sereno,
convidando à introspeção.
2
Gosto de brincar com pensamentos
desconexos e contraditórios.
É como andar por caminhos ínvios
flutuar no vazio.
3
Penso.
Penso.
E, pensando,
tenho visões apocalípticas:
gente devorando gente,
mães gerando mendigos,
escolas formando ladrões,
indigentes expulsos de hospitais,
prostitutas brilhando nos
salões,
delinqüentes se matando nas ruas
e inocentes lotando prisões.
4
A noite continua
uma nuvem branca cobre a lua.
Meu pensamento divaga:
Amor,
ódio,
prantos,
flores,
sexualidade,
solidão
e
cantos.
5
A noite chora.
Choro...
Nossas lágrimas caem à terra
e geram flores,
flores que enfeitam a vida,
mas, também, ornamentam a morte,
morte ocasional,
voluntária,
provocada,
natural,
6
Penso.
Penso.
Penso nas coisas boas e belas da
vida,
que consciências adormecidas
querem varrer da face da terra.
Mas penso,
também,
no mal que existe no mundo,
capaz de destruí-lo,
num segundo.
Penso na guerra,
no grito dos oprimidos.
na intolerância dos opressores,
na agonia da morte,
na tremenda falta de sorte,
dos meus irmãos sofredores.
7
Penso também em você,
meu amor.
Nos teus beijos,
nos nossos desejos
e anseios de felicidade.
8
A noite chega ao fim.
A lua despede-se de mim
e, invejando o sol que desponta,
desaparece no horizonte.
9
Então,
já não penso.
Durmo.
E, dormindo, sonho,
que o despertar do sol
é uma esperança,
uma leve esperança cheia de luz.
A sonhada esperança
que levou Cristo a morrer na
cruz.
E, assim, acordo,
voltando os olhos para o
infinito,
de onde me parece vir um grito,
um tênue e sufocado grito:
liberdade, liberdade, liberdade,
liberdade...
Dezembro
de 1964